ENTREVISTA: Instituição oficial do Governo da Espanha, Instituto Cervantes, completa 30 anos

O Instituto Cervantesórgão oficial do Governo da Espanha para promoção do idioma e cultura dos países hispano falantes, celebra 30 anos de fundação. Presente em 88 cidades de 45 países dos quatro continentes, a instituição possui oito unidades no Brasil – uma delas na capital baiana, desde 1997.  

“Se por um olhar, somos povos bem diferentes, ainda assim, há uma extrema sintonia recíproca entre os povos. A ascendência latina compartilhada por Brasil e Espanha não se resume à língua, mas também à cultura”, detalha Daniel Gallego Arcas, diretor do Instituto Cervantes Salvador. 

Com sede na Ladeira da Barra, a unidade da capital baiana também celebra esta história de três décadas, destacando a existência de uma trajetória de plena conexão com a cultura da Bahia, em um cenário mundial que posiciona o espanhol como a segunda língua mais falada no mundo.

Daniel Gallego Arcas, diretor do Instituto Cervantes Salvador, destaca o desafio de promover a cultura num contexto de pandemia e exalta a satisfação do seu país em se relacionar com a Bahia.  Confira abaixo a entrevista que ele concedeu à Revista Yacht Mais:

Do seu ponto de vista, onde nasce o elo entre as culturas da Bahia e da Espanha? 

Daniel Gallego Arcas: Temos uma longa história de relacionamento próximo, principalmente devido à emigração do final do século XIX até meados do século XX, reunindo hoje cerca de 12 mil espanhóis em Salvador. A colônia espanhola na capital baiana é a terceira maior do Brasil – depois de São Paulo, Rio de Janeiro e Santos. Muitos daqueles imigrantes que chegaram há décadas têm participado ativamente da vida social e cultural de Salvador. 

Para os espanhóis, qual a maior referência cultural que remete à Bahia?  

Daniel Gallego Arcas: Bom, na Espanha, acho que uma grande referência cultural da Bahia são alguns de seus músicos como Caetano Veloso, Gilberto Gil e Daniela Mercury, sem esquecer sua festa mais popular, o Carnaval.

Como o Instituto Cervantes avalia o trabalho de conexão feito pela instituição com agentes produtores de cultura na Bahia? 

Daniel Gallego Arcas:  Essa conexão com a cultura local é um dos objetivos da nossa presença em Salvador e nos enche de satisfação poder fazê-lo. A cultura baiana sempre teve forte presença na Espanha, como Carlinhos Brown, cuja influência levou o cineasta Fernando Trueba a realizar o documentário “El milagro de Candeal / O milagre de Candeal” e obteve o Prêmio ao Melhor Filme documentário e a Melhor Música na edição dos Prêmios Goya do ano 2005. Ao longo destes anos, o Instituto Cervantes vem realizando um trabalho de colaboração com os agentes culturais locais para a realização de atividades conjuntas, como com o Teatro Castro Alves, a Orquestra Sinfônica da Bahia, o Festival de Ilustração da Bahia, Teatro Vila Velha, Festival Vivadança

Nesses anos à frente do Instituto Cervantes Salvador, o que mais te encantou na cultura do estado? 

Daniel Gallego Arcas: A riqueza da cultura popular, que se manifesta em belas festas e, principalmente, na música. Salvador é uma cidade com uma personalidade enorme e única que se expressa com alegria em sua gente. Depois de todos esses anos morando em diferentes países e cidades, posso afirmar que a cultura da Bahia não é apenas uma das mais ricas e diversificadas do Brasil, mas um dos centros culturais mais ricos do mundo.

Entre os eventos que o Instituto já apoiou ao longo destes anos, qual foi o mais marcante para você? 

Daniel Gallego Arcas:  São todos importantes, mas lembro com saudade agora de nossos concertos de violão ou festivais dedicados à cultura latino-americana. No contexto atual, ficaria com um dos últimos: um encontro de poetas espanhóis, latino-americanos e brasileiros que realizamos virtualmente em março de 2019, e que foi especialmente emocionante neste contexto muito difícil da pandemia.

Neste contexto de pandemia, como manter a realização dos eventos culturais? 

Daniel Gallego Arcas: O formato digital e as redes sociais são alguns dos instrumentos para experimentar novos modelos de atividades culturais. Neste sentido, o formato virtual permitiu chegar a um público geograficamente disperso e interessado em cultura. A pandemia nos confirmou a importância da atividade cultural presencial e nos revelou formas de atender à distância um público desejoso de cultura. A pandemia permitiu-nos descobrir a possibilidade de produzir e realizar eventos culturais com transmissão ao vivo através de canais e plataformas da Internet, e graças a isso, a nossa programação tem se mantido viva.

Neste momento, como você avalia o perfil de interesse dos baianos pela língua espanhola?  

Daniel Gallego Arcas: Os baianos se interessam pelo espanhol por diversos motivos, um dos mais frequentes é para realizar intercâmbios universitários na Espanha ou em países da América Latina. Outro fator importante é o diferencial que falar e escrever espanhol significa no mercado de trabalho, mas também temos muitos alunos de qualquer idade que estudam por interesse cultural, para conhecer melhor os países de língua espanhola.

Gabriela Bandeira
Comunicativa, antenada e com atuação há mais de 16 anos na área de assessoria de comunicação, Gabriela Bandeira é jornalista formada pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), com curso de extensão na Universidade de Jornalismo de Santiago de Compostela (Espanha). Em 2019, reuniu toda a sua experiência e expertise em comunicação estratégica e conteúdos digitais, com atuação há mais de 12 anos no segmento de shopping center, e abriu a própria agência: a Comunicando Ideias. Filiada à Associação Brasileira de Agências de Comunicação (ABRACOM), possui alcance na Bahia e outros estados do Nordeste.