Atleta x sedentário: qual joelho envelhece pior?


Ortopedista David Sadigursky explica como o equilíbrio entre movimento e sobrecarga define a saúde articular ao longo da vida

O joelho é uma das articulações mais complexas e exigidas do corpo humano. Responsável por sustentar o peso corporal e permitir movimentos básicos como andar, correr e agachar, ele também é uma das estruturas que mais sofrem com o tempo, seja pela falta de uso ou seja pelo excesso. Entender como o corpo responde ao movimento, ou à ausência dele, é uma das chaves para compreender o envelhecimento dos joelhos.

De acordo com o ortopedista David Sadigurskyespecialista em joelho e trauma do esporte, o impacto do envelhecimento articular depende de múltiplos fatores, entre eles, o tipo de exercício, a intensidade da prática esportiva, o histórico de lesões e o controle do peso corporal. “O movimento é indispensável para a nutrição da cartilagem e o fortalecimento muscular, mas o excesso de carga sem o devido tempo de recuperação pode causar microtraumas cumulativos e acelerar o desgaste das estruturas do joelho”, explica o médico.

Em níveis moderados, a prática esportiva é um importante estímulo condroprotetor — termo usado para descrever o efeito benéfico do movimento sobre a cartilagem articular. Isso ocorre porque a compressão cíclica durante a atividade física favorece a absorção de nutrientes pelo líquido sinovial, essencial para manter a elasticidade e a resistência do tecido. “O atleta recreacional, que pratica atividade de forma equilibrada, tende a ter boa nutrição da cartilagem e tônus muscular preservado, o que ajuda a prevenir a artrose”, destaca.

Por outro lado, atletas de alto rendimento enfrentam o desafio do uso excessivo da articulação. Treinos intensos, repetições constantes e impactos elevados podem gerar inflamações e sobrecarga nos meniscos, tendões e ligamentos. Estudos indicam que esportistas com histórico de lesões ligamentares — especialmente no ligamento cruzado anterior (LCA) — têm maior risco de desenvolver artrose precoce, mesmo após cirurgias corretivas e reabilitação adequada. “Quando há desequilíbrio entre estímulo e recuperação, o tecido perde a capacidade de se cicatrizar adequadamente, abrindo espaço para processos degenerativos”, acrescenta o ortopedista.

No extremo oposto, o sedentarismo provoca uma série de alterações prejudiciais. A ausência de movimento reduz o fluxo de nutrientes no líquido sinovial, compromete a lubrificação articular e favorece a atrofia muscular, o que diminui a estabilidade e aumenta o risco de dor. “O joelho precisa de movimento para se manter saudável. Quando a musculatura ao redor está fraca, a articulação perde sustentação e o atrito entre as superfícies ósseas aumenta”, explica o especialista.

A consequência é o chamado envelhecimento por desuso, comum em pessoas com estilo de vida inativo ou sobrepeso. Além da rigidez articular e das dores ao levantar ou subir escadas, há uma maior predisposição ao desenvolvimento de artrose degenerativa — doença caracterizada pelo desgaste progressivo da cartilagem e inflamação das estruturas internas do joelho.

Prevenção e novas abordagens terapêuticas

Para David Sadigursky, o caminho ideal está no equilíbrio entre movimento, força e recuperação são exercícios de baixo impacto, como bicicleta, musculação orientada e hidroginástica, ajudam a preservar a função articular e prevenir lesões. “O importante é manter o corpo ativo, fortalecer os músculos estabilizadores e respeitar os limites de dor e fadiga. O joelho envelhece melhor quando é usado com consciência”, reforça.

Nos últimos anos, a ortopedia tem evoluído com o uso de terapias celulares, que buscam otimizar o processo de cicatrização e reparo tecidual em casos de lesão ou desgaste. Entre elas, destacam-se os tratamentos com células mesenquimais, capazes de modular a inflamação e favorecer o ambiente biológico de recuperação do joelho. “Essas terapias representam uma nova fronteira na medicina musculoesquelética, especialmente em pacientes que buscam manter a longevidade articular e adiar procedimentos invasivos, como a prótese de joelho”, explica.

Segundo o ortopedista, mais importante do que comparar atletas e sedentários é compreender que o envelhecimento articular está diretamente ligado à qualidade do movimento e da recuperação. “A longevidade do joelho depende do equilíbrio. Nem o excesso, nem a falta de movimento são saudáveis. A prevenção, o controle do peso e a atenção aos primeiros sinais de dor são os maiores aliados para manter a articulação ativa por mais tempo”, conclui Sadigursky.

Sobre David Sadigursky

David Sadigursky é ortopedista graduado em Medicina pela Universidade Federal da Bahia, mestre em Cirurgia do Joelho pela Universidade de São Paulo (USP) e doutorando pela Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública (EBMSP). Ele realizou fellowship em Doenças da Cartilagem e trauma esportivo na Harvard Medical School, em Boston, EUA, e em cirurgia ortopédica de artroplastia do joelho no Hospital CLINIC, em Barcelona, Espanha. Possui pós-graduação em Clínica da Dor pelo CTD e em Intervenção em Dor pela Universidade da Coreia, em Seul. É membro titular da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (SBOT), da Sociedade Brasileira de Cirurgia do Joelho (SBCJ) e da Sociedade Brasileira de Artroscopia e Traumatologia do Esporte (SBRATE). Participa ativamente da Sociedade Internacional de Artroscopia, Cirurgia do Joelho e Esporte (ISAKOS) e é membro associado das sociedades de dor e medicina regenerativa, como SBRET, SBED e SOBRAMID. Atualmente, é sócio da Clínica Omane e diretor do centro de estudos em terapias celulares.

Mais informações: https://www.instagram.com/drdavidsadigursky/ 

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