Ortopedista David Sadigursky explica por que atletas recreacionais se machucam mais e quais cuidados ajudam a proteger o joelho durante a prática esportiva
O futebol de fim de semana é um hábito cultural no Brasil, um momento de reencontro, descontração e vínculo social entre amigos. No entanto, para quem passa a semana inteira sem atividade física estruturada, essa combinação de sedentarismo e esforço intenso pode se transformar em um terreno fértil para lesões, especialmente no joelho, a articulação mais exigida durante o jogo.
Para o ortopedista David Sadigursky, especialista em joelho e trauma do esporte, o risco aumenta de forma significativa entre os “atletas recreacionais”, termo usado para definir quem pratica atividade física de maneira esporádica e sem rotina estruturada de preparo. “O problema não está no futebol, mas no contraste entre o que o corpo está preparado para fazer e o que ele é exigido a executar em um curto espaço de tempo”, explica.
Durante a semana, a falta de estímulo provoca perda de força, rigidez articular, diminuição da propriocepção e redução da capacidade muscular de estabilizar o joelho. Quando o jogo começa, esses fatores se encontram com gestos esportivos de alta demanda: desacelerações bruscas, giros com o pé apoiado no chão, arranques, saltos e aterrissagens.
As lesões mais frequentes nesse grupo envolvem tornozelo, joelho, coxa e panturrilha. As entorses (lesões causadas por torção brusca da articulação que estica ou rompe os ligamentos) lideram as ocorrências, seguidas pelas lesões do menisco — geralmente associadas a rotações abruptas — e pelas lesões ligamentares, como as que envolvem o ligamento cruzado anterior (LCA), comuns em movimentos de mudança rápida de direção. Estiramentos e rupturas musculares surgem devido à falta de força e flexibilidade, e quadros de sobrecarga, como tendinites e inflamações ósseas induzidas por impacto, aparecem em jogadores que realizam esforços incompatíveis com seu nível de condicionamento.
De acordo com David Sadigursky, a prevenção depende do equilíbrio entre movimento contínuo, força e recuperação. “Não se trata de impedir ninguém de jogar, e sim de preparar o corpo para a atividade. Quando há equilíbrio entre força, mobilidade e condicionamento, o risco de lesão cai drasticamente”, ressalta. Entre as principais recomendações estão:
● Manter uma rotina mínima de exercícios durante a semana, mesmo que leve, evitando longos intervalos de inatividade.
● Fortalecer coxas, quadris e core, musculaturas fundamentais para estabilizar o joelho durante movimentos de giro, desaceleração e mudança de direção.
● Alongar-se de forma regular, e não apenas minutos antes da partida, preservando a mobilidade e reduzindo a rigidez articular.
● Realizar aquecimento de 10 a 15 minutos antes do jogo, com corrida leve, mobilidade articular e ativação muscular.
● Hidratar-se adequadamente, já que a fadiga favorece lesões musculares.
● Usar calçados adequados ao tipo de gramado, garantindo mais tração e menor risco de entorses.
● Aumentar a intensidade gradualmente, especialmente após períodos prolongados de sedentarismo.
“O corpo responde melhor ao movimento contínuo. Quando o ‘atleta recreacional’ cria uma rotina simples de preparo, ele ganha mais segurança e longevidade esportiva”, reforça o ortopedista. A procura por avaliação médica deve ser imediata quando surgem sinais como dor persistente após o jogo, inchaço nas primeiras horas, sensação de instabilidade ou “falseio”, estalos acompanhados de dor ou dificuldade para apoiar o peso do corpo. Esses sintomas podem indicar lesões ligamentares, meniscais ou musculares que não se resolvem apenas com repouso.
Avanços terapêuticos
A ortopedia tem evoluído no uso de células mesenquimais, que modulam inflamação e favorecem um ambiente biológico mais propício à cicatrização, especialmente em casos de desgaste articular ou lesões de partes moles. “Essas terapias representam uma fronteira importante da medicina musculoesquelética ao promover reparo tecidual mais eficiente e retardar procedimentos invasivos, quando bem indicadas”, destaca Sadigursky.
Para o ortopedista, o ponto central é que a segurança e o desempenho no futebol dependem mais da qualidade do preparo do que da frequência da prática. “A longevidade esportiva não depende apenas de jogar, mas de como o corpo é preparado para isso. É o equilíbrio entre movimento, força e recuperação que mantém o joelho saudável, nem o excesso, nem a falta de estímulo são benéficos”, conclui.
Sobre David Sadigursky
David Sadigursky é ortopedista graduado em Medicina pela Universidade Federal da Bahia, mestre em Cirurgia do Joelho pela Universidade de São Paulo (USP) e doutorando pela Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública (EBMSP). Ele realizou fellowship em Doenças da Cartilagem e trauma esportivo na Harvard Medical School, em Boston, EUA, e em cirurgia ortopédica de artroplastia do joelho no Hospital CLINIC, em Barcelona, Espanha. Possui pós-graduação em Clínica da Dor pelo CTD e em Intervenção em Dor pela Universidade da Coreia, em Seul. É membro titular da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (SBOT), da Sociedade Brasileira de Cirurgia do Joelho (SBCJ) e da Sociedade Brasileira de Artroscopia e Traumatologia do Esporte (SBRATE). Participa ativamente da Sociedade Internacional de Artroscopia, Cirurgia do Joelho e Esporte (ISAKOS) e é membro associado das sociedades de dor e medicina regenerativa, como SBRET, SBED e SOBRAMID. Atualmente, é sócio da Clínica Omane e diretor do centro de estudos em terapias celulares.
Mais informações: https://www.instagram.com/drdavidsadigursky/
Crédito da foto – Freepik












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