O tempo escolar e a aprendizagem dos alunos

Viviane Brito
CEO do Villa Global Education

Leituras recentes conduziram-me a reflexões sobre o tempo escolar e as condições de aprendizagem para os alunos. Entre os autores visitados, destaco a produção da Prof. Branca Jurema Ponce¹ que aborda o conceito de justiça curricular em suas várias publicações, vinculando-o à necessária igualdade e equidade da educação na escola pública, levando em conta diversos fatores intervenientes, entre eles o tempo dedicado à “ensinagem”. A produção de Ponce é de fato inspiradora também para os educadores da escola privada, levando à reflexão sobre a mesma problematização, embora diante de outros e diferentes aspectos que incidem sobre o desenvolvimento curricular nessa rede.

De alguma forma, a construção dos currículos, tanto no sistema público quanto privado, está sob a influência do ritmo da economia global, que defende a formação de competências atrelada às demandas inovadoras do mercado de trabalho e, no Ensino Médio, à pressão das exigências cada vez mais robustas de vestibulares e do ENEM. Nesse contexto, aprofunda-se o esvaziamento do tempo, enquanto condição para a reflexão e formação dos alunos, maximiza-se a cultura da qualidade educativa pela ótica das melhores colocações nos rankings de ingresso nos vestibulares, que se multiplicam. Nessa perspectiva é que, frequentemente, as escolas privadas são identificadas como de referência, ficando em segundo plano o trabalho realizado para o atendimento às diferenças de ritmo e às dificuldades da aprendizagem. Estabelecer o equilíbrio entre esses dois enfoques é um desafio recorrente para os gestores do currículo no Ensino Médio, premidos entre a “obrigatoriedade” de destaque nas listas de resultados e a consecução de objetivos educacionais de alunos plurais, com ritmos e desempenhos distintos, exigindo mais tempo para consolidar seus aprendizados.

Se enfatizada a premissa classificatória, o tempo para o aluno menos veloz e produtivo fica reduzido ou pouco eficaz, instaurando-se de algum modo uma lacuna na justiça curricular. Diante desse cenário, em que há urgência de se atingir rapidamente o sucesso no mundo profissional, abreviando tempos por meio de aprovações imediatas nos vestibulares e a consecução de expectativas de inserção social, retomo mais uma vez a autora, quando diz que atualmente “o presente não é valorizado como fonte de experiências humanas significativas.”

Reflexões inquietantes, porém, necessárias nestes tempos em que a recomposição curricular atravessa nossas preocupações cotidianas como educadores, enquanto a frequente expectativa dos pais e da sociedade reside na maior produtividade e retorno econômico, alcançáveis por meio da educação.

Gabriela Bandeira
Comunicativa, antenada e com atuação há mais de 16 anos na área de assessoria de comunicação, Gabriela Bandeira é jornalista formada pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), com curso de extensão na Universidade de Jornalismo de Santiago de Compostela (Espanha). Em 2019, reuniu toda a sua experiência e expertise em comunicação estratégica e conteúdos digitais, com atuação há mais de 12 anos no segmento de shopping center, e abriu a própria agência: a Comunicando Ideias. Filiada à Associação Brasileira de Agências de Comunicação (ABRACOM), possui alcance na Bahia e outros estados do Nordeste.